Já parou pra pensar se sua vida gira em torno do trabalho? Pressão em excesso e a intensa busca pela perfeição, além de prejudicar sua saúde, podem atrapalhar sua carreira. Todos nós passamos por momentos de sobrecarga e estresse e nem por isso estamos com a famosa síndrome de burnout. Mas o problema começa quando existe uma dependência existencial com o trabalho. Isso acontece ou já aconteceu com você?
Almejar posições de destaque, ser mais eficiente, desenvolver competências - principalmente, em tempos de transformação digital - e finalmente ter uma carreira bem sucedida são aspirações que podem sair do seu controle. Vira e mexe costumamos até brincar com o termo em inglês workaholic, quando falamos de pessoas que trabalham e se empenham muito no que fazem, mas o assunto pode ser sério.
Teng Chei Tung, professor de psiquiatria do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, explica que “as pessoas vão reagindo aos excessos de exigência e aos poucos se cria o esgotamento. A partir disso começa uma insatisfação com o trabalho, ansiedade e negativismo. A pressão em cumprir prazos e cobranças fora do horário de trabalho afetam até o ritmo biológico. Então começa assim pressionando, exigindo e o profissional acaba se esgotando”.
Atenção aos sintomas
Vivemos altos e baixos no trabalho. Há momentos de conquista como há momento de crise e trabalho duro. Mas muita cautela, porque o que representaria um desenvolvimento pessoal ou profissional pode se tornar um grande retrocesso. Fábio Martins Fonseca, psiquiatra, terapeuta cognitivo e consultor em saúde mental e comportamento, recomenda ficar atento aos seguintes sinais:
Falta de integridade, quando o trabalhador tem que abrir mão de seus valores para levar a cabo suas funções.Pode até parecer contraditório, mas o excesso de autocobrança pode ser sua principal inimiga. E ao invés de melhorar seu desempenho, é muito provável que você se torne mais improdutivo. Preocupações excessivas com o trabalho prejudicam a saúde e também atrapalham sua evolução na carreira.
O psiquiatra Fabio afirma que “a despersonalização, que leva a um certo negativismo e cinismo, a perda de eficácia e erros que passam a ser cometidos e a exaustão física e emocional podem se perpetuar”. Mas muito pior que isso é o quadro de doenças psiquiátricas que a sobrecarga do trabalho pode te levar.
Esgotamento Mental (Burnout)
Um estudo realizado na Universidade de Bergen, na Noruega, reuniu mais de 16 mil trabalhadores e mostra que as pessoas viciadas em trabalho são mais propensas a terem distúrbios psiquiátricos. Em relação àqueles que não eram workaholics, 30% dos diagnosticados com vício em trabalho tinham déficit de atenção e hiperatividade (TDAH); 33% tinham ansiedade e 25% apresentaram transtorno obsessivo - compulsivo (TOC).
Sobrecarga emocional, invalidação, relacionamentos tóxicos, abuso e falta de integridade, são fatores relacionados à Síndrome de Burnout, mas dificilmente é possível identificar de forma objetiva as causas que levaram ao quadro. E talvez você esteja passando por isso, mas ainda não se deu conta que a sua relação com o trabalho já está comprometida. Então, comece a analisar esses três critérios:
A Síndrome de Burnout é uma consequência emocional e psicológica de um trabalho que está sendo excessivo para aquele indivíduo. A partir desse estresse intenso, podem vir todos os transtornos psiquiátricos. O especialista Fabio que “a partir daí, os sintomas podem se desenrolar de várias formas diferentes: desde crises de ansiedade, fadiga, cansaço constante, sintomas físicos como dores de cabeça, crises hipertensivas, vários tipos de sintomas, crises de pânico até sintomas depressivos”.
O resultado disso é: falta de engajamento e falta de sentido nas metas e na empresa. É importante ressaltar que cada pessoa reage de uma forma diferente à pressão imposta. E existem outros fatores que podem interferir no quadro, como problemas familiares, financeiros e afetivos.
Fique atento!
Nunca se falou tanto sobre saúde mental e Síndrome de Burnout, mas além da iniciativa dos profissionais, os gestores e empresas ter uma responsabilidade cada vez maior com seus colaboradores e atenção ao clima organizacional.
De acordo com pesquisa realizada pela filial nacional da International Stress Management Association (Isma), cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com os efeitos do stress, um dos primeiros sinais da síndrome de burnout. E outra pesquisa realizada pela Talenses mostra que 49% dos trabalhadores no Brasil já tiveram crises de ansiedade, enquanto 44% dizem ter sofrido com o esgotamento mental por conta do trabalho.
As causas são bem conhecidas! Ambiente de trabalho tóxico, pressão excessiva vindo da empresa ou do chefe. Mas além da sobrecarga com o trabalho, tais consequências podem vir de você mesmo: trabalhar doente, ser o primeiro a chegar e o último a sair ou não conseguir desligar do trabalho para tirar umas férias e estar com os amigos e familiares. Se você tem algum desses hábitos, está na hora de repensar.
Esses comportamentos podem causar uma série de consequências: Ansiedade, estresse, frustrações. O cansaço pode até ser passageiro, mas o sentimento de esgotamento persevera. Profissionais de alta performance ou que amam o que fazem correm mais risco, pois os sinais que o corpo dá acabam passando despercebidos. Caso isso aconteça (ou esteja acontecendo) é preciso procurar um psicólogo e, em casos mais graves, um psiquiatra.
Qualidade de vida
Para conseguir sobreviver às exigências da empresa, do chefe, assim como do mercado, é preciso adotar estabelecer limites e adotar hábitos saudáveis para não acabar caindo nos vícios que citamos. Tão importante quanto desenvolver habilidades técnicas e competências, é preciso desenvolver habilidades interpessoais e incluir nos seus planos um requesito bem importante chamado qualidade de vida.
Não se pode deixar de lado outros papéis importantes como família, amizade, espiritualidade. Então, a dica é cultivar relacionamentos fora e dentro do ambiente de trabalho.
Fabio Martins ressalta a importância de valorizar os relacionamentos e o capital afetivo acumulado ao longo da vida. “A sociedade competitiva e capitalista tende a nos fazer esquecer que o valor do ser humano não está exclusivamente no que ele é capaz de produzir. Costumo dizer que ao adoecermos, muito mais do que nossa conta bancária, pode contar quem está ao nosso lado segurando nossa mão”.
Otimize seu tempo
O excesso de informações e a necessidade de captar, armazenar e processá-las é um dos principais motivos do cansaço mental. Somado a isso, ainda existem as responsabilidades financeiras, familiares e pessoais. Como lidar e impedir que essa sobrecarga atrapalhe seus planos profissionais?
Para o professor e Doutor Teng “é preciso conseguir revalorizar a relação no trabalho e entender até que ponto você vai assumir as cobranças, sejam elas de você mesmo ou da sua empresa. E até onde você vai se esforçar para cumprir o que lhe foi designado”. Teng diz que o segundo passo é planejar o tempo para cuidar da sua vida pessoal. E se permitir tirar férias, fazer ginástica, ter seu tempo de lazer, cuidar da vida afetiva e da sua alimentação.
Além disso, os momentos de ócio que supostamente seriam para relaxar e descansar, as pessoas, geralmente, não conseguem deixar celular de lado. Por isso, a tecnologia também pode acabar sendo uma inimiga. Excesso de informações, uso desmedido das redes sociais e viver conectado causam muitos danos à saúde.
Então, mais uma alternativa para quebrar o vício com o trabalho é justamente desvincular de tudo que te deixa conectado, como WhatsApp, redes sociais e a internet. E assim se conectar com a realidade, o que inclusive ajuda aliviar o estresse.
Pensando na conscientização sobre os riscos que do uso excessivo da internet oferecem à saúde das pessoas, existem programas privados e governamentais espalhados pelo mundo que promovem a iniciativa Detox Digital, que sugere ficar desconectado do celular e das redes sociais por alguns momentos.
A saúde mental das pessoas tem se tornado uma grande preocupação da medicina no mundo inteiro. Quem não conhece alguém que já passou por um quadro de depressão? E essa pessoa pode até ser você mesmo. As razões podem ser diversas, e são tantas mudanças que passamos e tanta informação ao mesmo tempo, que às vezes não conseguimos nem sequer assimilar.
Portanto, é imprescindível que os profissionais fiquem atentos e sempre avaliem seus hábitos. A responsabilidade das empresas também é fundamental diante das metas estabelecidas e da pressão que se impõe ao colaborador.