O papo de hoje poderia ser sobre MVP (Most Valuable Player) – prêmio entregue a cada temporada ao melhor jogador da NBA – mas não, o que vamos falar é melhor ainda! Oferece menores gastos, mais chances de melhoria e sai da zona utópica do seu negócio.
Para quem começou no ramo do empreendedorismo agora ou é fera no assunto, provavelmente já ouviu ou trabalhou com o MVP (Minimum Viable Product ou Mínimo Produto Viável, em português), um conjunto de testes primários feitos para validar a viabilidade do negócio.
Mesmo com o processo sendo utilizado por diversos empreendedores, ainda surgem dúvidas acerca do tema, como defini-lo, testá-lo, primeiros passos, entre outros questionamentos. Por isso, conversamos com Felipe Jacob, consultor sênior de pré-vendas na CA Technologies e William Juliano, professor na Live University e CEO da Kick Off, que compartilharam dicas de como começar o seu MVP com o pé direito! Confira!
1. Quais etapas antecedem a criação do MVP e por que são cruciais para o negócio?
Felipe Jacob (Consultor sênior de pré-vendas na CA Technologies) – Partindo de um olhar voltado a solução, é preciso entender o negócio. Se eu não o conheço, sou incapaz de montar uma solução que entregue valor. Depois temos a prototipação, que é diferente de MVP. O protótipo (mesmo que em formato totalmente informal) é importante para estabelecer um rumo (metas). Como normalmente a execução do MVP é super cronometrada, é preciso estar sempre em conformidade com as metas para não fugir ao essencial. Afinal, como o próprio nome diz, em um MVP só pode (ou deveria) existir o estritamente necessário. É muito fácil um MVP virar um grande projeto, o que não é o objetivo. Por último e talvez o mais importante, o Heatmap. Nesse passo devemos mapear todos os alvos (leads, ou clientes potenciais), e classificá-los quanto à complexidade versus valor. Com essa técnica fica muito fácil visualizar exatamente qual será o escopo do MVP, buscando priorizar os projetos com maior potencial de valor e menor complexidade (e consequentemente menor custo).
William Juliano (Professor na Live University e CEO da Kick Off) – Em grandes corporações, geralmente o time responsável por novos produtos faz algumas pesquisas de mercado, desenvolve uma série de teses, faz projeções de longo prazo, investe milhões de reais e lança o produto. Depois disso, espera que a projeção de venda seja alcançada em função de uma série de premissas que foram desenhadas. O problema desse processo é que você não sabe se vai vender o que planejou, o que estava projetado nas gloriosas planilhas ou se a reação do cliente e do mercado é aquela que se esperava. Isso está mudando. As empresas perceberam que utilizar um conceito que nasceu nas startups – o MVP, ou Minimum Viable Product – é muito mais eficiente para desenvolver um novo produto ou serviço, pois ao invés de colocar todas suas fichas num produto ou serviço 100% definido, há um aumento gradativo de funcionalidades oriundas das respostas de clientes. Ou seja, você cria hipóteses e faz testes para otimizá-lo de forma contínua.
O MVP é criado e vai se tornando um produto, em incrementos. As fases que antecedem a criação dele é a definição do mínimo das funcionalidades que o cliente testaria. Veja que as empresas estão trocando a inovação pela experimentação, ou seja, um processo interativo para verificar o que funciona ou não. O mais importante é aprender o mais rápido possível e interagir com o cliente. Se apaixonar pelo problema, não pela solução. É preciso captar feedbacks e, mais importante, testar o MVP com um segmento de público que realmente usará o produto. É importante saber falhar, aprender com os erros e consertá-los na próxima interação.
2. Como criar uma proposta de valor efetiva que contribua significativamente para o MVP?
Felipe Jacob – O segredo é conhecer bem o negócio e os usuários finais. Uma das práticas que a empresa onde trabalho utiliza para isso é o que chamamos de "day in the life". Trata-se de uma imersão no dia a dia do usuário final. A experiência de usuário é fundamental para criar um projeto que entregue valor.
Outro ponto importante, no meu caso, é a comunicação. Não adianta eu ter 100% do entendimento e criar uma solução mega inovadora se os sponsors não entenderem a mensagem. O maior desafio nesse ponto é que nem sempre o sponsor e o usuário final são a mesma pessoa, e a linguagem de comunicação/entendimento da solução entre eles é bem diferente. O que buscamos é sempre alinhar a solução técnica (prototipada) com a visão de negócio, conectando os ganhos a curto e médio prazo.
William Juliano – A proposta de valor é como o produto vai melhorar a vida do cliente. No setor varejista, por exemplo, um supermercado pode focar na diferenciação de produtos e serviços (alta variedade e qualidade) e outro pode querer oferecer o menor preço possível. Duas propostas diferentes. Não dá pra saber qual deles dá mais retorno para o acionista, mas são duas propostas opostas e claras.
De forma geral, é preciso garantir que o produto tenha uma proposta de valor já embutida no MVP. Por exemplo, das dezenas de startups que já mentorei, uma delas era um marketplace de produtos veganos que, por si só, já deixa clara sua proposta de valor, atender apenas o público vegano com produtos descolados. A partir dessa definição, as funcionalidades são ajustadas conforme os feedbacks dos clientes serão coletados. Quais produtos realmente vendem mais? Os preços são competitivos? A forma de interagir com a comunidade está correta? O que os clientes entendem como diferenciação? Os custos de frete estão ok? Os vendedores de produtos veganos realmente veem valor no marketplace? E por aí vai...
3. De maneira geral, quais funcionalidades devem estar presentes em um MVP de qualidade?
Felipe Jacob – Independente de quais sejam, as funcionalidades devem estar alinhadas as necessidades de negócio e ao heatmap. Esse conjunto de funcionalidades é levantado no entendimento do negócio. Não existe um conjunto padrão de funcionalidades, ou seja, cada caso será um caso. Uma folha de papel em branco pode não ter utilidade nenhuma para a maioria das pessoas, mas para uma empresa onde o produto será um origami, por exemplo, pode ter muito valor.
William Juliano – O MVP deve conter aquilo que quero testar. Design, formas de uso, modelo de precificação, modelos de monetização e outros elementos que queremos testar devem estar no MVP. A partir daí, vamos adaptando e evoluindo o produto de maneira que possamos garantir que ele está com as funcionalidades necessárias para continuar o negócio.
4. No momento de testá-lo, há um número médio de usuários para enviar o protótipo ou a própria equipe que deve estabelecer a quantidade?
Felipe Jacob – Esse número é definido no momento do heatmap (conforme expliquei anteriormente). Esse cálculo é realizado junto aos sponsors do projeto. Mais importante que a quantidade de leads é a diversidade (estou contemplando todas as possibilidades? o quão fiel é minha amostragem em relação ao todo?) e qualidade/confiabilidade dos feedbacks. Se o heatmap for bem montado, a solução terá grande potencial de entregar valor, e os leads selecionados consequentemente se tornarão vitrine aos demais. Se eu garantir que a mensagem é 100% entendida pelos sponsors, e garantir também ROI já nas primeiras entregas, ganhamos uma oportunidade de interação para ajustar o MVP de acordo com os feedbacks, e iniciar a expansão. Caso contrário, não significa necessariamente fracasso. Um dos objetivos do MVP é o "fail fast", provando que o investimento/solução não atende ou não vale a pena.
William Juliano – Queremos testar nosso MVP com a maior quantidade possível de pessoas, desde que tenhamos um bom controle da amostra. A quantidade está relacionada ao custo do teste, ou seja, se o empreendedor terá recursos para testá-lo com um número grande de usuários. Quanto maior o teste, melhor será a qualidade do feedback.
Acredito que tão importante quanto o número de usuários seja a velocidade dos feedbacks que o empreendedor receberá. Se o teste demorar seis meses, o empreendedor pode ter problemas. Conheço aceleradoras que exigem que o MVP seja validado em uma semana. A mesma lógica vale para dentro de uma corporação: velocidade é a chave do negócio.
É importante notar que nem todos os produtos podem ter um MVP. Não faz sentido, por exemplo, fazer um MVP de um carro novo. Uma montadora faz uma série de testes internos muito bem controlados, para garantir que o produto final esteja dentro de determinados critérios de uso, design e segurança.
5. Qual é o perfil ideal de uma equipe que construirá o produto?
Felipe Jacob – Difícil dizer. Depende muito do produto. Mas, respondendo de forma bem genérica, as qualidades que uma pessoa (ou equipe) deve ter é, antes de tudo, dominar a experiência do usuário (design thinking), visão de negócio (é mais importante entender os ganhos a nível de negócio do que funcionalidades técnicas do produto) e por último, ser um arquiteto de soluções (montar soluções compondo diversos produtos de tal forma que crie valor ao usuário final, sempre conectando com as necessidades de negócio).
William Juliano – Não há um perfil ideal, não há uma bala de prata. O MVP pode ser feito por uma pessoa apenas. Dependendo da complexidade do produto, pode haver dezenas de pessoas envolvidas no processo. A equipe deve ter todas as competências para construí-lo, testá-lo e chegar às conclusões do teste. Por exemplo, se estou testando um software novo, eu preciso de pessoas de desenvolvimento, de teste, um PO (Product Owner), um cara comercial, um representante financeiro, e assim vai.
Mas é importante tentar limitar o tamanho da equipe. Quanto menor, melhor. Como o Jeff Bezos diz, qualquer equipe em uma empresa deve ser pequena o suficiente para alimentar com duas pizzas. Isso significa que, dependendo do projeto, ter pessoas demais pode comprometer o desenvolvimento do MVP, até porque equipes grandes têm mais dificuldades para tomar decisão.
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