Hoje em dia o tema saúde mental está deixando de ser um tabu e, finalmente, está ganhando espaço, seja nas empresas ou dentro de casa. De acordo com a London School of Economics, R$206 bilhões é o valor perdido pelas empresas brasileiras em função do adoecimento psicológico, faltas e baixa produtividade.
Para frisar a importância de debater o tema dentro das organizações, é imprescindível trazer números como esse e trabalhá-lo em formato cascata, ou seja, da liderança até o back office para que todos os colaboradores se sintam importantes e, principalmente, valorizados pela companhia em que trabalham.
Serviços como orientação psicológica nas corporações têm sido uma das iniciativas para identificar algum colaborador com algum tipo de transtorno. E para compartilhar mais sobre o cenário acerca do tema, conversamos com Everton Höpner Pereira, co-founder na Vittude. Continue lendo e confira!
Everton – Antes de tudo é importante ressaltar que existe a restrição de algumas empresas dependendo do porte, margens, pacote de benefícios, entre outros aspectos são passíveis de serem contornadas. Há outros benefícios não orientados à saúde mental que acabam competindo entre si, gerando dificuldade em entregar mais valor ao colaborador.
Pensando nisso, a Vittude segmenta o serviço em três verticais com diferentes valores, justamente para alcançar o maior número de empresas e viabilizar o serviço para todos. A primeira opção oferece à empresa um custo de até R$5,00 reais por colaborador. Nessa opção, eles têm acesso à toda a rede de psicólogos, tanto para atendimento online quanto presencial, com até 25% de abatimento no custo da sessão (sem limite de número de sessões). Na segunda alternativa, o valor é a partir de R$5,00 reais. Em contrapartida, a condição de desconto será a partir de 50%, ou seja, torna-se mais atrativo para o funcionário. Já o último é direcionado a indivíduos – já identificados pelo RH – que são propensos ou já apresentam transtornos emocionais. Após o mapeamento para identificação dessas pessoas, pode ser comprado um crédito, por exemplo, R$600,00 reais são disponibilizados para uso exclusivo na plataforma da Vittude.
Nesse contexto, é difícil dizer que não há condições. Há possibilidade desde que saúde mental entre na lista de prioridades da companhia para desenvolver os colaboradores. Caso nenhum serviço encaixe, existem outras iniciativas para fomentar a importância da discussão do tema. Dentro da SIPAT, por exemplo, é possível desenvolver palestras – RH e demais áreas – que fale sobre o tema e, principalmente, disseminar que saúde física e mental são pilares da vida que não estão separados.
No Brasil o tema saúde mental ainda é um tabu, então qualquer momento é válido para debater o assunto. Sabemos que é um processo de mudança cultural, leva tempo, então toda oportunidade deve ser aproveitada. A comunicação interna, seja por e-mail ou outros meios, deve abordar o tema de forma natural, não orientado à doença, mas focado na saúde, prevenção e consequentemente no bem-estar.
Everton – Muitos gestores servem de gatilho para possíveis crises, momentos de burnout, ansiedade, pânico, etc. Essas situações podem ser provocadas sem que ele mesmo perceba. Um exemplo que gosto de trazer, é que a família, por exemplo, tem um papel no desenvolvimento das crianças que acaba influenciando a vida adulta. Na empresa acontece o mesmo de forma semelhante, pois o nível de convivência é alto – de 8hrs ou mais por dia – e a exposição também, então naturalmente influencia de forma positiva ou negativa a vida dos liderados por seus respectivos gestores.
Há um termo chamado bossy, usado para classificar gestores que são chefes demais, mandões, imperativos, que apropriam-se de um tom de voz agressivo, entre outras características. Um gestor nesse perfil muitas vezes não tem uma motivação negativa. Geralmente, esse posicionamento se deve à busca de resultados, bom desempenho e performance, fazendo com que eles ajam dessa forma sem que percebam. Apesar de isso ser comum, outros perfis estão surgindo, como líderes que apresentam técnicas de gestão mais modernas, controlando as situações de forma adequada e atentando-se ao lado emocional do colaborador.
Todas essas questões se voltam à empatia, ou seja, é preciso se colocar no lugar do colaborador. As pessoas têm perfis diferentes, seja no momento de ouvir a mensagem até levá-la para casa. Mesmo sem saber, o gestor impacta de forma significativa na vida do colaborador, na produtividade e satisfação do trabalho dele. Nessa dinâmica, o papel do RH é fomentar o desenvolvimento da liderança, não só via treinamento, mas também com conteúdo rodas de conversa entre líderes e liderados, de forma a envolver todas as partes em um ambiente amigável, de confiança e aberto à mudança.
Para finalizar, acredito que o gestor bossy não terá espaço daqui alguns anos. Ele ainda existe, mas estamos em um momento de transição para empresas mais humanas.
Everton – De uma maneira geral, promover a descompressão é um caminho e existem várias maneiras de fazer isso. Algumas são bem autônomas, como flexibilizar a jornada de trabalho, fomentar atividade física por meio de corridas de rua, etc. Além disso, outro ponto bem bacana para que o indivíduo se conscientize que há algo errado, é promover atividades em grupo ou dinâmicas, que ajudam bastante no momento de reflexão por parte do colaborador. Essa ação é uma forma sutil de fazer com que o colaborador busque por ajuda - junto ao gestor direto ou RH - e possa se cuidar e ser cuidado de forma adequada, evitando situações extremas. realmente compreenda o momento que está passando.
Melhoria no clima organizacional, produtividade, satisfação do trabalho. Sem acréscimo de carga de trabalho o gestor terá uma equipe mais satisfeita e produtiva, com redução considerável do desgaste entre o time e ansiedade, que pode ser considerada como porta de entrada para demais transtornos emocionais.
Em relação ao investimento, não deveria ser um desafio. Vejo que passamos por momentos de apertados nas empresas, como desligamentos em massa, falência, então foram “maus bocados” que precisamos reconhecer. Agora o cenário está começando a mudar, estamos saindo disso, e as novas organizações já olham para a saúde do funcionário também. Ainda assim, existem empresas extremamente tradicionais que ainda não priorizam essa questão, o que é um problema de mindset “jurássico” e ignoram o aspecto emocional das pessoas.
Gerações mais novas estão muito mais conectadas, então é necessário romper o mindset quadrado que alguns gestores ainda apresentam. A meu ver, budget não é o principal problema, pois nossos serviços – por exemplo – são acessíveis para diferentes tipos de orçamento e, principalmente, avaliar prioridades, já que diversas empresas oferecem inúmeros benefícios que muitas vezes nem o funcionário sabe que tem acesso.
Nesse contexto, entra a pergunta “Qual é a prioridade? O benefício da TV com desconto em algum varejista ou a saúde mental do colaborador?”. Por exemplo, até alguns anos atrás a atividade física e alimentação saudável não eram uma prioridade e, se compararmos com hoje, é totalmente diferente. Surgiram empresas que oferecem benefícios orientados à saúde física, como o Gympass, por exemplo. Nós prevemos que nos próximos anos a saúde mental também entrará em paralelo com esses serviços, e a Vittude está aí para isso.
A gente entende que a empresa impacta de forma direta as pessoas e, por isso, é importante levantar essa bandeira e conscientizar tanto gestores quanto os colaboradores, seja por meio da produção de conteúdo ou outras iniciativas.
Para finalizar, o mindset é o principal problema e não o budget. Ele é contornável e não é uma despesa. No fim das contas é um investimento. Essa iniciativa dá retorno para ambos, empresa e colaborador. Talvez seja isso que alguns líderes ainda não tenham entendido.
Everton – Nós da Vittude temos um papel nisso e iremos em breve propor comitês com gestores de RH – ou profissionais que lidam com benefícios – para refletir sobre a saúde emocional e os impactos disso no cotidiano do colaborador.
Para conscientizar, o ideal é espalhar a importância do tema, seja por meio da produção de conteúdo, em talks e pesquisas para subsidiar o RH para que, no fim, relacione esses dados com indicadores que estão relacionados com a qualidade de vida no trabalho e produtividade do colaborador.
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