Observe o seu escritório. Quantas mulheres, deficientes físicos, negros ou homossexuais são seus colegas de trabalho? O respeito à diversidade é um assunto que está em pauta no mundo todo e não é diferente no meio empresarial. Gerar inclusão é considerado uma atitude benéfica tanto para a sociedade quanto para a própria empresa.
Conversamos com sete profissionais especializados em diversidade e inclusão para entender a importância da pluralidade no meio corporativo e conhecer seus pontos de vista sobre questões como discriminação.
E não esqueça que no próximo dia 9 de abril, teremos o Fórum RH 2019, um dia repleto de palestras inspiradoras na Live University, em São Paulo! Será a chance de compartilhar conhecimentos com grandes profissionais na área de Recursos Humanos. Confira quem são os palestrantes e a programação no site!
Confira abaixo quais foram os especialistas entrevistados e as suas opiniões sobre o tema:
Adriana Ferreira – Líder de Diversidade e Inclusão da IBM para a América Latina
Aline Morais – Sócia-Diretora Santa Causa Consultoria em Inclusão e Diversidade
Cristina Kerr – CEO da CKZ Consultoria em Diversidade
Fellipe Cardoso – Coordenador de Diversidade e Inclusão da Zurich Seguros
Lana Kantor – Coordenadora de Marketing na Vulpi
Marcelo Fabrício Garcia – Supervisor de RH na CIMED
Priscila Renata Resende – Coordenadora de Recrutamento e Seleção na Inklua
É importante que as empresas contem com uma série de práticas para promover a diversidade e a inclusão de seus colaboradores. Na IBM, dispomos de uma ampla gama de iniciativas neste sentido, pois somos uma companhia que sempre se importou com a diversidade e foi pioneira em iniciativas de inclusão. Em 2004, por exemplo, a empresa adotou o programa Domestic Partner, iniciativa que oferece direitos aos casais homoafetivos de incluir companheiros de mesmo sexo no plano de saúde. Esta ação ocorreu antes mesmo da união estável homoafetiva ser reconhecida legalmente no país. Hoje a companhia já possui banheiros de gênero neutro, dando suporte aos funcionários em transição de gênero.
Em suas iniciativas de inclusão, podemos destacar as BRGs (Business Resource Groups) ou Grupo de Afinidades (LGBT, afro, mulheres e PcDs), que realizam reuniões periódicas com funcionários voluntários para debater assuntos de interesse, compartilhar experiências e dificuldades e pensar em ações que promovam o respeito e empoderem esses grupos tanto na empresa como na sociedade. Uma das iniciativas que surgiram por meio da BRG mulheres foi o pós-natal para pais - que permite que pais possam trabalhar até três vezes por semana em casa até os quatro primeiros meses do filho.
A empresa trabalha também constantemente para atrair talentos provenientes de áreas carentes, realizando workshops entre jovens estudantes e executivos da companhia, que compartilham suas histórias e rotinas dentro da IBM.
As iniciativas para promover a diversidade e a inclusão são pensadas para engajar os funcionários e sua adoção permite que eles reflitam sobre suas responsabilidades como agentes de mudança e transformação da cultura organizacional e em como podem promover a inclusão e o respeito dentro da empresa. Aqui na IBM, há dezenas de treinamentos online e presenciais que reforçam a importância do respeito e da equidade de oportunidades e alguns dos temas tratados são: Como evitar o Assédio Moral e Sexual no Ambiente de Trabalho, Como Gerenciar Talentos Diversos ou ainda Liderando sem Preconceitos. Além disso, na IBM temos um canal de denúncias onde funcionários podem reportar qualquer tipo de quebra no código de conduta e isso legitima os processos voltados à diversidade.
Sabemos que quando as pessoas se sentem acolhidas, quando suas ideias e ideais são valorizados, sua produtividade e engajamento naturalmente aumentam. Pessoas que se engajam com a empresa também a referenciam para amigos e parentes e isso aumenta nossa possibilidade de atrair talentos diversos, gerando mais valor para a construção de times colaborativos e inovadores.
Acredito que a primeira coisa é adotar essa premissa em sua cultura organizacional e passar a disseminar essa intenção no maior número de ações possíveis. No B2B e no B2C. Outro passo importante é entender sua situação em relação ao tema, porque não adianta defender a diversidade, mas não arrumar a própria casa. Nós recomendamos começar com um diagnóstico para medir essa diversidade, entender se há equilíbrio de gênero, por exemplo, profissionais com deficiência, pessoas negras, pessoas com orientações sexuais diversas e, principalmente, como esses profissionais estão distribuídos na sua estrutura de cargos. Esses profissionais ocupam também cargos de liderança e gestão ou estão relegados somente a cargos operacionais ou de apoio? A partir do diagnóstico será possível entender melhor o cenário e partir para outras ações necessárias para estimular uma gestão inclusiva e diversa.
A discriminação é uma barreira muito comum, principalmente em empresas com perfis homogêneos de profissionais. Quando se começa a investir em diversidade e na inclusão de profissionais com características diferentes é comum se deparar com situações de preconceito. Eu costumo sugerir ações de conscientização alinhadas com campanhas de comunicação internas que permitam debater o tema e trazer essas questões da copa para a sala de treinamento e reuniões. É preciso acolher todos os funcionários, entender o desafio de lidar com o diferente e buscar estratégias para mostrar que pessoas diferentes enriquecem a visão de mundo, tornam as equipes mais inovadoras e podem contribuir para um ambiente mais humano e produtivo.
Um ambiente feito de pessoas parecidas, que se vestem de forma similar, viajam para os mesmos lugares e pensam do mesmo jeito pode ser uma zona de acomodação perigosa quando se espera dos profissionais criatividade e inovação, principalmente em momentos de crise. O exercício de sair da zona de segurança e lidar com colegas de trabalho que vivenciam realidades diferentes pode ser muito positivo, porque traz olhares e formas de compreender o mundo também diferentes. Isso pode estimular a equipe, ao mesmo tempo que traz soluções mais parecidas e alinhadas com a realidade da nossa sociedade. Uma equipe diversa aumenta as chances de uma empresa oferecer produtos ou serviços que contemplem o interesse de uma parcela maior de clientes. Além disso, empresas que investem em bons programas de diversidade costumam acolher melhor seus funcionários e criar um ambiente de trabalho mais humanizado. Isso contribui para uma redução do assédio moral e doenças relacionadas ao estresse.
Para que uma empresa se torne mais aberta e diversa, começamos pelo Treinamento de Viés Inconsciente com a Liderança, onde tratamos dos preconceitos, estereótipos e crenças que constroem a nossa forma de ver as outras pessoas. Também abordamos a importância da gestão pelo exemplo para que realmente possamos criar uma Cultura de Inclusão que insira a todos e onde as pessoas se sintam pertencentes. O passo seguinte é criar um Plano de Ação para a diversidade que precisa ser medida e acompanhada.
É importante que todos os colaboradores passem pelo treinamento de viés inconsciente, homens e mulheres. Um ponto importantíssimo é acabar com as piadas e brincadeiras preconceituosas e a forma como o líder e gestor lidera o time, se ele faz piadas ou dá risada quando alguém faz, vai moldar o comportamento do time.
A diversidade só traz benefícios para a empresa, pois são pessoas que trazem olhares diferentes e com isto conseguem inovar, mas é necessário estar aberto a uma escuta empática, ouvir atentamente um ponto de vista que é diferente do seu. Quando uma pessoa se sente pertencente ao time, a produtividade e a entrega dela aumentam muito.
Mais do que falar em processos e práticas, é preciso falar em como a empresa fomenta a cultura de diversidade e inclusão ao transformá-la em um valor institucional. A complexidade e a ambiguidade dos cenários institucionais em um mundo de crescimento exponencial, cujos anseios sociais influenciam no estabelecimento de práticas organizacionais em empresas não preparadas para elas pode mostrar uma desassociação destas mesmas práticas com o discurso apresentado institucionalmente.
Ao olharmos para a última década, por exemplo, a palavra “inclusão” era raramente usada e apenas por algumas organizações, cuja cultura de vanguarda já era notadamente reconhecida, não pelos processos de gestão de diversidade, mas por trazê-la à discussão organizacional e à esfera política da empresa. A ênfase hoje está em conquistar novos mercados, formar equipes globais eficazes e eficientes e gerenciar a reputação da marca.
Para se promover uma transformação cultural, entende-se que as organizações devem buscar ir além da mera promoção de ações afirmativas obrigatórias e demonstrar engajamento estratégico aos agentes sociais, de modo que eles se correlacionem diretamente com a transformação. Uma empresa socialmente responsável é aquela que vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores, e faz isso por acreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa.
Além disso, deve preparar sua força de trabalho, em especial a sua liderança, para serem menos passivos e cada vez menos apresentarem preconceitos velados como fundamentação para atitudes assediadoras. Ainda que as empresas não possam ditar crenças aos seus empregados, as empresas têm como ditar os comportamentos adequados no ambiente de trabalho, alinhado com as políticas e os objetivos estratégicos ligados à discussão da diversidade.
A preparação da liderança para fazer a gestão da diversidade com um valor estratégico na empresa permitem criar um ambiente de incentivo que permita erros, mas não o fracasso. O líder deve buscar o comprometimento dos liderados e não apenas a sua disciplina em relação a um ambiente diverso.
Fazer a gestão da diversidade de forma correta traz uma variedade de perspectivas e abordagens para o ambiente organizacional, aumentando seus graus de competitividade internamente e externamente, abrindo espaço para um cenário de inovação, produtividade e, principalmente, de relevância para o mercado.
Quanto mais abertamente quaisquer problemas e questões forem reconhecidos e discutidos, maior a chance de que a diversidade seja um fator de sucesso organizacional, já que um local de trabalho mais diversificado pode não apenas elevar o moral dos funcionários, mas também proporcionar maior acesso a novos segmentos do mercado e aumentar a produtividade. Ao alavancar o talento dentro de diversas equipes e abordar a diversidade como um meio efetivo para os benefícios do negócio (por exemplo, eficiência e produtividade), as organizações podem efetivamente gerenciar a diversidade para obter vantagem competitiva.
Antes de um manual de boas práticas, é preciso revisar um pouco da essência da organização. Quais são os valores dos CEOs e liderança? Veja, a diversidade provavelmente já está no quadro de funcionários, mas cabe a empresa inspirar essa mudança e refletir qual a cultura e comportamentos desejados.
Afinal, não adianta ter práticas de bom senso, como equiparar o salário de homens e mulheres na mesma posição e permitir LGBTfobia, quando um possível dono de empresa replica preconceitos em público (ou até mesmo em suas redes sociais).
Assim, depois de entender o que é equidade, diversidade e inclusão para a empresa, podemos partir para a prática. Lembrando que diversidade não é apenas sobre idade, etnia, gênero, orientação sexual etc. Mas também pode ser sobre diversidade de pensamento (posições políticas por exemplo, precisam ser respeitadas), formação educacional (não restringir candidatos a uma faculdade) etc.
Muito foi dito no tópico anterior, mas é importante deixar essas informações claras e qual é a política da empresa desde o início. Ter mecanismos para que queixas sejam prestadas e levar esse processo a sério é importante, sem expor as pessoas. Treinamentos sobre empatia, comitê de cultura e até mesmo apresentar estatísticas de discriminação no país podem ajudar. É preciso ser didático no compromisso com a diversidade.
Importante lembrar que se alguma denúncia vazar, os danos não são só para os colaboradores atuais, mas mancham gravemente a imagem da empresa e impedem uma renovação no quadro de funcionários. Considere que se sua imagem na publicidade sempre foi machista, por exemplo, como nas propagandas de cerveja, isso já afasta a participação de mulheres.
Pessoas com backgrounds diferentes são mais inovadoras em conjunto, porque têm uma bagagem que leva a soluções diferentes. Tome como exemplo pessoas da mesma faculdade, com experiências similares e mesmo professor. É um pouco improvável que sem uma pesquisa ou consumo de referências, cheguem a respostas muito diferentes. Novos pontos de vista ajudam a refrescar as ideias!
Somos diversos, assim como qualquer espécie, mas é a nossa própria humanidade que nos leva para algum lugar contra a diversidade. Outro fator que nos leva para longe da diversidade é a ideia de que os sistemas se autopreservam, os iguais defendem uns aos outros. O primeiro passo é tornar natural cada ação em favor a diversidade e inclusão. Uma empresa deve, desde o recrutamento e seleção, abrir espaços de inclusão, deve também ter testes cegos, aqueles em que não se podem ver os candidatos, diminuindo vieses preconceituosos.
Só há um modo de cultivar novos modos, semear novos hábitos. Atitudes formais também ajudam, como campanhas de incentivo a cultura de diversidade, ações de responsabilidade social e até políticas de incentivo a diversidade e inclusão e de combate à discriminação.
Inúmeras pesquisas indicam que a diversidade faz mais forte o grupo, e grupos mais fortes têm desempenhos diferenciados. É como se cobrisse uma lacuna com cada diferente competência de cada diferente pessoa. Quanto mais diverso, mais competências no caldeirão cultural. É disso que empresas mais necessitam.
Existem diversas práticas para tornar uma empresa mais aberta à diversidade como: projetos de conscientização, projetos de sensibilização, dinâmicas, palestras, levantamento da acessibilidade do ambiente e adaptação para receber todas as pessoas de acordo com suas necessidades, preparar os gestores para apoiar e acolher esses colaboradores, entre outras medidas.
O que vejo hoje são muitas empresas que não conseguem investir em acessibilidade para as pessoas com deficiência e assim buscando candidatos de acordo com a realidade da empresa. A metodologia do emprego apoiado visa o processo ao contrário que é empregar a pessoa com deficiência de acordo com suas necessidades e a empresa estar preparada para receber qualquer candidato, a empresa que não tem esse ambiente preparado para receber qualquer candidato à inclusão não acontece de maneira efetiva e assim perdendo muitos profissionais.
Na realidade, a empresa não pode impedir que esses comportamentos aconteçam, mas sim trabalhar a conscientização dos seus colaboradores, ampliando a consciência, pois muitas vezes o preconceito está inconsciente. A empresa deve intermediar em conflitos, realizar pesquisa de clima organizacional, entre outros. O preconceito também pode fazer parte da cultura organizacional daquela empresa, o que torna mais complexo esse processo, pois o primeiro passo deve partir das empresas.
Com as diferenças podemos aprender muito e com isso evoluir para profissionais e seres humanos melhores.
A inclusão é um processo que está acontecendo dentro da sociedade aos poucos. Se compararmos a sociedade de antigamente com a de hoje já mudamos muitas coisas, mas temos muito mais coisas a aprender ainda.