A transformação digital é um dos temas mais recorrentes entre as lideranças em eventos e convenções. Que ela já está entre nós, isso é inegável, mas ainda há quem fique perdido nessa avalanche de informações e novas exigências que são colocadas aos líderes atualmente.
Conversamos com especialistas em inovação e desenvolvimento corporativo para entender se a transformação digital tem a ver com a tecnologia ou com as pessoas e o que esses líderes precisam mudar para se adequar a essa nova realidade. Confira as entrevistas!
Cileneu Nunes (CEO da Upaya Desenvolvimento Corporativo) - Não conheço essa expressão “Líder 4.0”, mas suponho que seja um profissional interessado em participar da revolução digital que estamos experimentando, buscando informação atualizada, trabalhando mudança de mindset, participando de eventos, workshops e atividades relacionadas à inovação e startups. Mas principalmente se dispondo a ter um olhar diferente para o futuro, a operar num mindset transformado.
Ricardo Castro (Fundador da Mentoor Incubadora de Talentos) - Cada vez mais o mercado exige profissionais Líderes com múltiplas habilidades e competências ligadas ao mundo digital. O perfil deste novo líder exige uma sinergia entre os principais ícones da empresa: pessoas, processos e tecnologias, até porque hoje eles não sobrevivem um sem o outro. Este líder deve seguir a transformação digital e os impactos na gestão de pessoas, assim como ter a habilidade de lidar com as diversidades pessoais e seus propósitos. Deve estar alinhado aos processos cognitivos, e, para que tudo isso flua com certeza, se utilizar de tecnologias que integrem e compartilhem conhecimentos e objetivos.
Matheus Pinheiro (Cofunfador e Head de Inovação do Meraki Group) - A liderança, mais do que tudo, é entender e trabalhar com pessoas. Para mim, ser um líder 4.0 é estar atento e orientado às pessoas, compreendê-las de maneira empática, estimular a criatividade, trabalhar em sinergia com as competências de cada um, identificar essas competências para aprimorá-las e resolver os problemas que a jornada de trabalho nos coloca. E, acima de tudo, juntamente com a tecnologia, automatizar alguns processos para que as tarefas que envolvem criatividade, trabalho em equipe, senso de urgência, empatia sejam otimizadas, enquanto as tarefas operacionais sejam feitas pela tecnologia.
Cileneu Nunes - Vejo dois tipos de impactos: saudáveis e não-saudáveis.
Os impactos saudáveis são aqueles dos líderes que se dispuseram a vivenciar verdadeiramente a ruptura e a inovação e se posicionam de forma mais aberta, promovem atividades para “contaminar” o time (no bom sentido, de estimular, desafiar), facilitam a experiência e agem de acordo com o novo mindset.
Os impactos não-saudáveis são aqueles dos lideres que não entenderam e se sentem ameaçados pela transformação, preferem boicotar as ideias, sugestões e projetos, agarrando-se no status quo do “mundo velho”.
Ricardo Castro - A transformação digital permite que as pessoas estejam conectadas a todo o momento e isso causa uma sobrecarga de informações, sejam elas valiosas ou desnecessárias, e como isso afeta suas funções, responsabilidades e entregáveis. E frente a tudo isso, os líderes precisam desenvolver um controle sem que desmotive, mas que faça estes colaboradores mantenham o foco e atinjam suas metas. Com certeza a gestão deve dar autonomia, porém com controles rígidos e feedbacks precisos e rápidos.
Matheus Pinheiro - Obviamente, a tecnologia tem uma adoção tardia em alguns países. No Brasil, a curva de inovação não é rápida. O Brasil ainda é incipiente em alguns usos de tecnologia, até pela educação digital. Há muita resistência das pessoas em ter automação de processos e tarefas feitas por robôs, e o medo em si de perder os espaços de trabalho. O que de fato acontece é que não temos profissionais que são educados em termos de cultura, processos e procedimentos. E quando chega uma tecnologia, ela faz muito mais rápida.
A transformação digital impacta na maneira que as pessoas se veem não-preparadas para lidar com essa transformação, com esses processos automatizados. Se as pessoas que fazem os processos, digitalizados ou não, acontecerem, eles conseguem de fato se sobrepor à concorrência. Transformação Digital impacta as lideranças na maneira como começamos a ter plataformas e processos de trabalhos automatizados que resultem em facilidade e assertividade, dependendo da tarefa ser mais rápida, mais efetiva, mais eficaz. Em contra partida, muitas vezes podemos perder a sensibilidade e o face to face.
Um bom líder nessa transformação digital sabe qual a hora de requisitar algum processo automatizado. Se você consegue aliar o Analytics e o BI junto com os processos de desenvolvimento dos colaboradores, aí você tem um desempenho muito mais efetivo e tem uma jornada de processos que podem ser otimizada, porque você tem toda a base de dados para tomar uma decisão.
Cileneu Nunes - O principal é a iniciativa da busca, a atitude aberta para aceitar as visões diferentes que vão surgindo, a coragem para experimentar e a capacidade de suportar os erros, aprender com eles e superá-los.
Ricardo Castro - Primeiramente estar disposto a conhecer tanto novas ferramentas de gestão com metodologias ágeis e descentralizadas e também buscar conhecer sempre novas tecnologias e suas aplicações. Não precisa buscar ser técnico, mas sim conhecer com mais detalhes como é e de que forma as coisas e estruturas são construídas.
Matheus Pinheiro - As lideranças necessitam estar com a mente aberta e aptas à mudança, porque ela já está acontecendo. Se houver uma resistência em incorporar uma plataforma digital, uma otimização de processos e análise de dados estruturados e não-estruturados você está fadado a criar barreiras dentro da organização, e até com concorrentes, e acabar perdendo espaço no mercado.
A liderança precisa mudar seu modelo mental. Entender que a transformação digital já acontece. E ainda virá muito mais transformação na maneira como agimos como pessoas e organizações. Nós temos que ter essa flexibilidade e essa vulnerabilidade e entender nossas problemáticas e os fatores onde não somos tão bons e incorporar automação e processos, principalmente de análises de dados e estatísticas, e compreender onde estamos com déficit e otimizar esses processos. Entender o que está ocorrendo no mundo e fazer uso dessa dualidade é fator crucial para o sucesso desse novo líder.
Cileneu Nunes - A tecnologia é a ferramenta que facilita a realização de algo diferente, inusitado, mas a verdadeira transformação ocorrerá nas pessoas e através das pessoas, no mindset, nos processos, nas relações.
Ricardo Castro - Na minha visão, não podemos mais fazer esta distinção e cito até outra que deve ser analisada também, onde o foco deve estar sempre nas pessoas, processos e tecnologias. Eu desenvolvi algumas técnicas específicas e direcionadas para este tríade.
Matheus Pinheiro - Acredito que nas pessoas porque são elas que movimentam todas as organizações e o cerne das atuações das empresas e da sociedade é movido por pessoas. Entender as pessoas e consequentemente desempenhar um processo em que você as empodere, dando a possibilidade delas desempenharem tarefas com mais assertividade. Os novos líderes, os líderes 4.0, devem ter seu foco em pessoas e a tecnologia é o meio para se atingir os resultados. A essência, o core deve ser focado nas pessoas.
Cileneu Nunes - Abrindo espaços para mais debates, proporcionando eventos “open mind”, conexão com ecossistemas de inovação, viagens. Mas o mais importante será sempre visitar os clientes para entender quais são os problemas que poderão ser resolvidos com a inovação.
Ricardo Castro - Acredito que focar no aprendizado não apenas em competências da sua área, mas também complementar com outras competências, que sejam complementares. Um exemplo é o executivo da área comercial que faz treinamentos técnicos de desenvolvimento e lógicas de programação e gestão de projetos. Isso o tornará um líder mais completo e com certeza terá mais propriedade para discutir projetos e vendas complexas com demais líderes e clientes.
Matheus Pinheiro - As empresas devem estar aptas para investir em inovação, porque este é um processo árduo e longo. Mas se deve ter em mente que se não fizer nada prático as organizações podem criar barreiras tanto internas quanto externas e perder espaço. Você vê que as grandes corporações que existem no mundo são de tecnologia, principalmente em valor de mercado. Você tem a G-Mafia (Google, Amazon, IBM, Facebook, Apple e Microsoft) nos Estados Unidos e o BATX (Baidu, Alibaba, Tencent e Xiaomi) na China, que são basicamente as nove empresas que dominam todos os mercados mundiais porque investem muito em inovação.
As empresas devem preparar as lideranças para tomar decisões mais assertivas e dar subsídio para os seus colaboradores tomarem decisões, para que essas pessoas se tornem parte mais assídua da empresa e vejam que sua atuação faz diferença. Tendo essa liberdade e dando essa possibilidade, as pessoas trabalharão mais felizes e com mais possibilidade de retorno tanto para a empresa quanto para eles nos processos que são desenvolvidos.