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Já pensou em contratar um imigrante? Entenda as vantagens em atrair estes profissionais para sua empresa

A questão imigratória tornou-se, nos últimos anos, um dos temas mais discutidos no mundo. No Brasil, o assunto está presente desde debates políticos até a mais recente novela da TV Globo. Com a crise na Venezuela, criou-se uma ideia de que refugiados vêm ao País para “roubar” empregos. Mas a realidade é diferente do que é propagado, e os imigrantes podem representar um ganho em diversidade, dedicação e mão de obra qualificada numa empresa.

Entrevistamos dois diretores de iniciativas que visam a inserção de refugiados no mercado de trabalho, a COO da Livraria Cultura, empresa que conta com profissionais estrangeiros em seu quadro de funcionários, e com a assessoria jurídica da Fecomercio. Todos conversaram sobre as vantagens de se contratar imigrantes, quais são as burocracias e qual o papel do Governo para dar uma melhor qualidade de vida para esses profissionais. Confira!

Quais são as dificuldades e vantagens de se contratar imigrantes?

Fernando Guimarães (Diretor da ONG Estou Refugiado) - Evidentemente que há vantagem. Você tem uma oportunidade de criar uma oportunidade maior em sua empresa com alguém que vem de outro país, de outra cultura. Isso enriquece a cultura da empresa como um todo. Geralmente, eles são pessoas muito dedicadas, que passaram por dificuldades muito grandes, que dão o sangue mesmo.

Há outro ganho, que é o de imagem, de se relacionar com a defesa de causas. A gente tem um ganho sutil, mas concreto, em relação ao enriquecimento da cultura corporativa e um ganho de imagem da empresa, que mostra claramente aos seus colaboradores e clientes que é uma empresa preocupada com as causas sociais.

A dificuldade é a outra face dessa moeda, é você ter que superar alguns preconceitos. As pessoas, de repente, temem que os imigrantes "vieram tirar os nossos empregos", o que não é um fato, eles são pessoas como nós, que estão lutando como nós para viver. Falam que eles vêm de países subdesenvolvidos, mas elas são pessoas extremamente bem preparadas. A grande maioria são pessoas com curso superior, preparadas, mas há um preconceito que precisa ser combatido. Há muito desconhecimento também a respeito da documentação. As pessoas acreditam muito naquela história do ilegal. A legislação brasileira permite a contratação com status temporário e a gente os ajuda a conseguir essa documentação.

Jonathan Berezovsky (Fundador e Diretor-Executivo do Migraflix) - Contratar imigrantes e refugiados traz mais diversidade e promove maior engajamento dos funcionários, desenvolvendo suas habilidades de liderança, e convivência com o diferente. Um relatório recente da consultoria McKinsey detectou que as empresas que incentivam a diversidade étnica e cultural em suas empresas têm uma probabilidade de performance financeira 33% superior às demais. Além disso, o exemplo de vida dessas pessoas pode servir como motivação para as equipes. Sem falar no índice de rotatividade que é muito menor.

As maiores dificuldades talvez sejam a língua, afinal, o processo de aprendizado de um novo idioma nunca é fácil e leva tempo, e também a questão da resistência a contratar essas pessoas por acreditarem que elas não estão suficientemente qualificadas, quando na verdade muitos desses imigrantes e refugiados têm ensino superior completo e anos de experiência em suas áreas profissionais.

 Juliana Brandão (Diretora de Operações da Livraria Cultura) - Onde algumas empresas enxergam dificuldades, nós vemos vantagens. Para o nosso negócio é maravilhoso ter imigrantes como colaboradores. Os clientes gostam de encontrar refugiados, de treinar o francês ou o espanhol com eles e adoram ouvir a história de vida dessas pessoas. Para nosso atendimento, ter refugiados é um ganho imensurável.​

Juliana Motta  (Assessora Jurídica da Fecomercio-SP) - Como advento da nova lei de migração em 2017 houve a facilitação do acesso do imigrante à documentação necessária para viabilizar sua permanência legal no país, desburocratizando e permitindo seu acesso a serviços públicos e ao mercado de trabalho formal, situação bastante dificultada antes pelo Estatuto do Estrangeiro.

A contratação de cidadãos imigrantes pode trazer uma oportunidade social e ainda ganho empresarial na medida em que confere um incremento econômico e produtivo ao País. A contratação de um imigrante envolve, também, a relação com a diversidade, alto ganho em recursos humanos, culturais, entre outros.

Em geral, há uma tendência de permanência no emprego maior dos imigrantes em relação aos nacionais. Há também uma parcela desses imigrantes que possuem grande qualificação técnica e podem ser de grande utilidade nas companhias brasileiras. O número de imigrantes representa uma pequena porcentagem e não impacta ou colide com a questão da falta de oportunidade de desempregados brasileiros. Não há qualquer diferença formal na contratação do imigrante em comparação ao brasileiro.

Ambos terão registro em carteira e serão resguardados pelas leis nacionais e, em contrapartida, o empregador também deve cumprir as regras para tal contratação e a relação de trabalho será nos mesmos moldes de um trabalhador nacional.

O excesso de burocracia tanto para legalizar o imigrante quanto para contratá-lo força sua ida para a informalidade?

Fernando Guimarães - Não, não há um excesso de burocracia, essa é uma visão que as pessoas têm, mas é bem ao contrário. É muito fácil contratar. O protocolo é que o refugiado se apresente a Polícia Federal para que ele dê entrada no pedido de visto. Esse protocolo é suficiente. As pessoas acham que precisam de toda uma documentação, mas não, há muita pouca burocracia. O que acontece com a informalidade é uma soma da dificuldade de arrumar um emprego, e aí não é só com o refugiado, mas com todo mundo, junto com um espírito de empreendedor que é natural a todo mundo.

A pessoa saiu do seu país, centenas de milhares de quilômetros, enfrentou todos os sacrifícios. Ele chega aqui no Brasil e ele precisa sobreviver, se ele demorar a arrumar um emprego, ele vai para a informalidade, mas não é porque há um excesso de burocracia. É natural da necessidade somada ao espírito empreendedor. O cara atravessou um oceano, ele chegou aqui disposto. Se você não der um emprego, ele vai dar um jeito de arrumar dinheiro. Você vai ao Brás e os vê vendendo coisas, mas junto com eles há muitos brasileiros também, que também precisam de emprego e também são empreendedores.

 Jonathan Berezovsky - Os solicitantes de refúgio podem ser contratados formalmente, mas muitos chegam ao Brasil e não fazem essa solicitação. Dessa forma acabam tendo que aceitar subempregos ou começam a trabalhar por conta própria vendendo produtos relacionados à sua cultura, desde comidas típicas, artesanato ou aulas particulares de idiomas, para citar alguns exemplos.

Juliana Brandão - Essa iniciativa também une nosso time, desenvolve empatia no grupo e cria um ambiente ainda mais colaborativo. Tem tudo a ver com nossa cultura de empresa. Nossos clientes esperam se deparar com diversidade quando vem à Livraria Cultura. Ao contratar imigrantes não estamos fazendo nenhum favor ou trabalho voluntário, é uma troca muito rica e justa para todos.​ Lembramos que a fundadora da nossa empresa veio da Alemanha fugindo do nazismo. Fomos fundados por uma refugiada. Assim, respeito e acolhimento à diversidade são valores vividos na Livraria Cultura desde que a empresa surgiu. ​

Só entrevistamos candidatos com a documentação adequada para permanência no Brasil. Logo, não temos contato com refugiados com essa dificuldade. Encontramos uma pequena dificuldade apenas para abrir contas em banco, pois muitos refugiados moram em abrigos do governo e não possuem comprovante de residência. Porém, conseguimos fazer um trabalho com um banco parceiro que nos ajudou a viabilizar a abertura de contas. ​

Juliana Motta - Em maio de 2017 foi sancionada pelo Presidente Michel Temer a Lei nº 13.445/2017 que revogou o antigo estatuto do estrangeiro. A lei sancionada recentemente tem por fim definir e regular a entrada e permanência do estrangeiro no País e trouxe mudanças significativas, principalmente pelo fato de considerar migrantes e visitantes do País como cidadãos dotados de garantias, direitos e deveres.  A questão da burocracia também foi substancialmente reduzida com o implemento da legislação. Foram publicadas no fim de 2017 inúmeras resoluções normativas pelo Conselho Nacional de Imigração que tratam das autorizações de residência no País para fins de trabalho dos imigrantes – tais resoluções listaram ainda os documentos e procedimentos a serem observados. Uma das alterações trata do visto concedido em decorrência do contrato de trabalho que prevê a formação de nível técnico utilizada para comprovar a qualificação do candidato.

Como o governo pode agir para facilitar e até estimular o acolhimento de imigrantes no mercado de trabalho brasileiro?

 Fernando Guimarães - Talvez, fazer uma campanha de esclarecimento. ONGs como a nossa fazem trabalhos que poderiam ser suportados pelo governo. A gente está buscando essa mão de obra que, muitas vezes, têm capacidades que são difíceis de encontrar no País, colocando elas num emprego formal e gerando benefícios econômicos, riquezas. Eles poderiam apoiar um pouco mais o nosso trabalho. Ou, no mínimo, fazer mais campanhas de esclarecimento. Usar os espaços que têm para, em vez de fazer “auto-louvação”, dar informação de que contratar um refugiado não é burocrático. Quando a gente chega numa empresa, o cara já está com o pé atrás, ele já podia estar melhor preparado. Fora isso, já estou satisfeito. Não há uma burocracia, é um processo normal.

Jonathan Berezovsky - Os primeiros passos seriam agilizar o processo de obtenção dos vistos de refúgio ou asilo para facilitar a contratação formal de imigrantes e refugiados, assim como promover políticas públicas que facilitem a assimilação destes novos cidadãos brasileiros a nossa sociedade, pois, quanto mais rápido isso ocorre, mais fácil é a inserção deles em nosso mercado de trabalho.

Juliana Brandão - Para um refugiado começar a ter a oportunidade de trabalhar no Brasil ele precisa de documentos, moradia, alimentação mínima adequada ​e português básico. Portanto, qualquer iniciativa que ajude a garantir esses requisitos ajudará a integrar essa população ao mercado de trabalho. ​

Juliana Motta - A legislação que definiu uma nova política imigratória, assegurou o direito à liberdade de circulação em território nacional; o direito à reunião familiar; o direito de associação, inclusive sindical; o amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; a garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplicação das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória. É necessária também a criação de políticas públicas que assegurem o cumprimento da legislação para oferecer mais oportunidades de qualificação profissional e de emprego aos imigrantes.

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